A advogada Andréa Paes é responsável pela defesa de pacientes que foram vítimas de procedimentos estéticos inadequados realizados pela dentista Giselle Gomes, acusada pelo Ministério Público de praticar estelionato, lesão corporal gravíssima e exercício irregular da arte dentária. De acordo com Andréa, outras vítimas estão surgindo a cada dia para registrarem novos boletins de ocorrência contra a profissional na delegacia. É preciso aguardar o resultado da perícia para saber se outros crimes poderão ser denunciados.
Giselle é ré em uma ação penal que tramita na Vara Criminal de Campos. Na última quinta-feira (4) a Polícia Civil abriu inquérito contra a profissional Giselle da Silva Gomes. Na terça-feira (9) o advogado dela, Eduardo Ferraz, gravou um vídeo onde afirma que Gisele tem autorização para atuar no segmento orofacial. A reportagem o procurou para uma entrevista, mas não obteve retorno. Segundo o processo, a dentista injetava um produto conhecido como PMMA (Polimetilmetacrilato), em vez de ácido hialurônico em locais inapropriados do corpo. O produto aplicado não é absorvível em determinadas partes do corpo. Isto causa danos graves à saúde, segundo a delegada Natália Patrão.
A advogada Andréa Paes cedeu fotos de um das vítimas da dentista Giselle Gomes. As imagens apontam como era e como ficou a boca da paciente após injeção de PMMA em vez de ácido hialurônico nos lábios. Ela se queixou de dores, infecção e necessita de uma cirurgia reparadora. A cada dia, em média três pessoas procuram pela advogada para apresentar queixas. Ela conversou com a reportagem do Terceira Via sobre este e alguns outros dados do processo.
Entrevista com Andréa Paes
Há alguma coisa a acrescentar no processo contra a dentista Giselle Gomes, além da denúncia do Ministério Público?
Neste momento a gente não tem nada a acrescentar. Mas situações relevantes do processo da denúncia estão sendo investigadas pelos órgãos competentes; analisando todas as provas que foram buscadas dentro da residência da senhora Giselle. Há algumas provas que foram descobertas dentro do mandado de busca e apreensão cumprido na semana passada. Esse material vai ser analisado. É possível que depois disto possam surgir nova imputação, novos crimes. A gente só saberá depois que o material for para a perícia, de tudo analisado. Um quadro está se desenhando para que algo novo possa ser descoberto.
Quantos pacientes ou vítimas da dentista a senhora está acompanhando?
Estão aparecendo na delegacia muitas vítimas da senhora Giselle. Estávamos com 17 e hoje totalizamos 25. A cada dia, cerca de três novas vítimas estão agendando, e, comparecendo aos poucos, de forma a não tumultuar o serviço policial investigativo. Há varias pessoas procedendo seus boletins de ocorrência.
O que elas esperam sobre indenização ou julgamento?
Quanto à indenização, eu vou ingressar com uma assistente de acusação na área criminal sobre esses procedimentos (estéticos). Na esfera cível estamos buscando indenizações para os reparos físicos e morais sofridos, diante da impossibilidade de trabalhar e de ter uma vida normal, bem como a possibilidade de sequelas nessas vítimas. Buscamos também a reparação material da doutora Giselle para arcar com custo de cirurgias reparadoras nessas pessoas.
Qual o tempo estimado para esse processo ser concluído e julgado?
Tratam-se de denúncias que vão correr na justiça de forma separada. A menos que se decida lá na frente uma apensação desses processos deles correrem em forma conjunta. A gente não consegue definir tempo por que existe habeas corpus; existem audiências que podem ser marcadas e remarcadas; existe a condenação em primeira instância, depois em segunda instância. Então, a gente não consegue falar em tempo estimado de processo.
O que te chamou mais à atenção nesse caso?
Trabalhar nesses processos envolve uma carga emocional muito grande. Os danos causados pela dentista em muitos casos são irreversíveis. Além da irreversibilidade do ato de uma boca que não vai mais ser igual; vai ser pior porque sofreu uma raspagem, um trauma, que possui um caroço. E para que este seja desfeito a pessoa terá que passar por uma mutilação, termo classificado por médicos; há o dano material e o danos psicológico e moral são muito grandes. A senhora Giselle não demonstra em nenhum momento qualquer arrependimento. Isso é bastante relevante para as vítimas. Em alguns casos ela nega o atendimento, se esconde, foge. Em outros, ela faz uso do PMMA e fala que vai aplicar uma substância para tirar outra que a gente sabe que não sai, causando mais dor e mais sofrimento.
fonte: Terceira Via