A delação do ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos – que baseou o afastamento do governador Wilson Witzel (PSC) – também cita o deputado estadual campista Rodrigo Bacellar (SD). Segundo publicação da jornalista Berenice Seara, do jornal Extra, o inquérito do Ministério Público Federal (MPF) relata uma parte do depoimento do médico onde ele diz que Bacellar e o deputado Márcio Canella (MDB) também teriam participação no esquema de desvio na saúde. Rodrigo, por sua vez, negou qualquer irregularidade e disse que apenas repassou pedidos dos municípios da região que estavam precisando de recursos.
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT), também foi alvo de busca e apreensão. O ex-secretário de Saúde cita também a participação de Ceciliano, que é próximo de Bacellar e Canella.
De acordo com o inquérito, Bacellar "deixou de lado as necessidades dos sistemas regionais de saúde para privilegiar suas bases eleitorais, sobrepondo projetos de poder aos interesses da população".
A denúncia também fala que a preferência pelos municípios de Bom Jesus do Itabapoana, Carapebus e São Fidélis seguiria a mesma linha. Em Bom Jesus e São Fidélis, os prefeito Roberto Tatu e Amarildo do Hospital, respectivamente, são do mesmo partido de Bacellar, assim como a vice de Carapebus, Marinette Manhães.
— O princípio da legalidade é muito claro: só é crime aquilo que é definido em lei. Eu sou parlamentar, fui eleito, tenho que zelar pela minha cidade, pela minha região. Isso é crime? É assustado ver algo como isso. Tenho minha consciência tranquila. Em momento nenhum pedi propina ou qualquer coisa errada. O que falava é que precisava ajudar os hospitais filantrópicos de Campos, por exemplo. O que me assusta é o MP querer classificar isso de uma maneira dúbia, tentando mostrar à população que isso pode ser classificado como crime. Não pode uma pessoa estudar 20 anos de direito penal e cometer uma aberração dessa. Eu sou criminoso porque peço dinheiro aos municípios que enviam ofício porque estão precisando? — questionou Bacellar.
Em nota, o prefeito de Campos, Rafael Diniz (Cidadania), disse que, "ao tomar conhecimento sobre as informações publicadas pela mída em relação à delação do ex-secretário de Saúde do Estado, Edmar Santos, cabe ressaltar que, tendo em vista a maior crise financeira da história de Campos, sempre buscamos parcerias com todas as esferas do poder. A Alerj é uma delas". Segundo Rafael, "mesmo não fazendo parte do grupo político do deputado estadual Rodrigo Bacellar, que inclusive tem candidato à Prefeitura de Campos, foi importante a interlocução com o parlamentar, sobretudo na busca por recursos aos hospitais contratualizados (Beneficência Portuguesa, Santa Casa, Hospital Plantadores de Cana e Hospital Álvaro Alvim), sendo essa parceria realizada de forma transparente e com ampla divulgação da mídia local na ocasião".
O município de São Fidélis recebeu, em maio, R$ 2 milhões — valor que o MPF considerou "absolutamente dissonante da média" do que foi distribuído às outras cidades. Os procuradores listam uma série de repasses que "reforça o entrelaçamento entre os diversos núcleos da organização criminosa, notadamente o núcleo político, no seu braço dentro da Alerj, e o núcleo econômico".
"As transferências para os municípios de Bom Jesus de Itabapoana, Campos, Carapebus e São João de Meriti revelam-se absolutamente compatíveis com a estratégia desenhada por André Ceciliano, Wilson Witzel e Cláudio Castro com a finalidade de manter o poderio político nas regiões, perpetuando, por consequência, o próprio poder da organização criminosa no estado", diz o texto do inquérito.
Rodrigo Bacellar declarou, ainda, que todas as tratativas foram feitas às claras. ""É natural que eles peçam ajuda aos deputados da região. É natural que eu, que tenha construído, com o meu trabalho, um bom relacionamento que eu tenho com o presidente da Assembleia, André Ceciliano, e com o vice-governador, Cláudio Castro, consiga mais recursos. Conseguir o aporte de R$ 8 milhões e dividi igualmente, R$ 2 milhões para cada um", disse o deputado, que continuou:
— Foi tudo assinado na secretaria, com o secretário, os quatro mantenedores dos hospitais, em reunião aberta. E dos quatro diretores, eu só conhecia um, que por acaso foi vereador", disse. "Se disserem que aportar dinheiro para um hospital que precisa é crime, náo sei mais o que fazer como parlamentar. Nem disputando eleição estou.
Bacellar chegou a ser eleito para ser relator do processo de impeachment de Witzel na Alerj que foi suspenso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Tanto Bacellar como Canella também fazem parte do Conselho de Ética da Assembleia, que analisa se aceita ou não a denúncia contra os cinco deputados que assumiram seus mandatos apesar de terem sido presos em 2018 na Operação Furna da Onça.
Fonte: Folha1